quinta-feira, 31 de maio de 2018

ERA UMA VEZ UMA VILA - HISTÓRIA 5: ERA UMA VEZ... O LOBISOMEM DA VILA


Os lobisomens são criaturas místicas, são personagens de muitas lendas. O lobisomem é um ser meio homem, meio animal, parecido com lobo ou cachorro grande, tem relatos que diz que andam de pé, outros que andam de quatro. Em todos os relatos trata-se de seres agressivos, irracionais e apreciadores da carne humana, sempre atacam ao cair da noite de lua cheia.
A vila também tem uma história de lobisomem, posso dizer que é uma história trágica. Vamos a ela.
A pacata Vila de repente se tornou um caus. Num sábado, após uma missa à noite, todos conversavam animadamente, de repente a conversa foi interrompida por m gritos de uma criança vindo da floresta atrás da igreja. Alguns homens saíram correndo na direção dos gritos, o Romântico da Vila com sua lanterna correu mais ligeiro que os outros e chegou antes até a criança que gritava. Quando chegou seus olhos se arregalaram ao ver um animal devorando a criança, infelizmente a criança já estava morta, os intestinos estavam pra fora e o animal, que no escuro parecia ser um cachorro muito grande, com os olhos vermelhos, comia rosnando para o Romântico não chegar perto.
Enquanto os outros iam chegando e se assustavam com a cena, o Romântico pegou um galho de árvore e começou a bater no animal, que assustado com as batidas e com as luzes das lanternas saiu correndo, alguns homens correram atrás, mas não conseguiram alcançá-lo.
No outro dia pela manhã, no velório da criança todos comentavam o caso. O Jornal da Vila disse:
- Isso é um ataque de um lobisomem, essa desgraça chegou até nossa vila, temos que descobrir quem é que está se transformando em lobisomem.
Todos começarem a falar juntos dizendo que isso era uma loucura, mas que se fosse verdade precisavam eliminar a pessoa que era lobisomem. Um começou olhar para o outro com olhares desconfiados. O Romântico da Vila vendo que todos estavam bastante mexidos com o que a Jornal falou interveio:
- Calma gente, não é lobisomem, isso é lenda, provavelmente é um cachorro grande ou um lobo.
- Cachorro grande? Lobo? Como? Ninguém na vila tem cachorro tão grande e não existe lobo em nossas florestas. É lobisomem sim e temos que caçá-lo – gritou um homem irritado.
De repente uma voz no fundo da sala grita alto:
- É o seu Clarão o lobisomem, eu vi ele rondando o meu galinheiro e todos nós sabemos que lobisomem gosta de comer bosta de galinha.
Ficou um silêncio na sala... Mas vou parar nesse momento para falar sobre o seu Clarão.
O seu Clarão era um senhor de uns 50 anos, neto de escravos, homem forte, trabalhador, estava sempre pronto para qualquer serviço: carpir, limpar jardim, limpar patente (casinha onde as pessoas faziam as necessidades), cortar lenha. Ninguém sabia de onde ele veio, morava num casebre perto do rio sozinho, não tinha família, gostava muito de brincar com as crianças e as crianças gostavam dele, principalmente das histórias que ele contava do tempo da escravidão no Brasil, histórias contadas pelo seus pais e seus avôs.
Voltando ao velório. Ainda estavam discutindo sobre o assunto, alguns queriam ir até o casebre de seu Clarão, mas o Romântico da Vila convenceu eles a pensarem melhor no assunto. A criança foi enterrada e todos foram para a casa pensando no assunto e assustado com o que poderia acontecer à noite, pois era somente a segunda noite de lua cheia.
Na segunda noite de lua cheia ninguém saiu de casa, os moradores da vila estavam com muito medo. As ruas estavam desertas, as luzes das casas apagadas, todos foram dormir cedo. Houve muito barulho durante a noite: era bezerro nas chácaras berrando, muitos latidos dos cachorros, muitos cocoricós das galinhas e galos nos galinheiros.
Mas duas pessoas resolveram sair de casa: o Safadinho da Vila e o seu Clarão. O Safadinho marcou um encontro com a menina mais bonita da vila na esquina da casa dela, mas ela não veio, pois estava com medo de sair.
Safadinho chegou no horário marcado, ele ouviu um barulho, perguntou:
- Amor é você?
Não obteve resposta, somente ouviu um rosnado, tipo de um cachorro, depois ouviu um uivo bem alto, como se tivesse um lobo bem ali do lado dele. Após o uivo ele sentiu uma patada no rosto e com impacto no chão desmaiou.
Quando se acordou estava num casebre, olhou para todo lado, estava sentindo muitas dores pelo corpo e muito cansado, logo adormeceu. Pela manhã acordou e percebeu que estava na casa do seu Clarão. No começo se assustou porque ouviu comentários de que ele era o lobisomem. Seu clarão disse a ele:
- Não precisa ter medo, pois não sou eu o lobisomem, como dizem na vila. Eu te salvei de dois lobos, pode ter certeza eram dois lobos enormes, se eu demorasse mais um pouco você já era. Que loucura é essa de sair a noite de casa?
Safadinho não respondeu, mas fez uma pergunta:
- Porque você saiu de casa à noite?
- Acabou minha pinga e eu fui ver se o armazém estava aberto, como todos estavam com medo dentro de casa o armazém estava fechado, na volta ouvi o uivo do lobo, estava perto, como a lua cheia estava bem forte no céu, eu consegui enxergar um dos lobos te atacar, peguei uma vara e consegui atropelar os dois lobos, mas você levou uma mordida no braço, fiz curativo.
Seu Clarão parou de falar e viu o no rosto de Safadinho o medo e desconfiança do que ele contou. Ele disse a Safadinho:
- Agora você tem que tomar café que eu vou te levar pra casa.
Ao chegar na casa dos pais de Safadinho ele foi atacado pelo pai dele, onde gritava:
- Lobisomem desgraçado, o que você fez com meu filho?
Seu clarão tentava se defender, O Romântico da Vila estava na casa do pai do Safadinho e tirou ele de cima de Seu Clarão, pedindo calma. Com essa atitude, seu clarão conseguiu explicar o que aconteceu, mas o pai estava transtornado e atropelou seu Clarão, dizendo pra ele não chegar perto de sua família. O Romântico disse ao seu Clarão:
- Vá para casa e não saia de lá enquanto resolvemos isso.
À tarde todos se reuniram no pavilhão da Igreja para tentarem resolver a situação. O pai de Safadinho queria que fossem até a casa de seu Clarão para prendê-lo e mata-lo. Romântico dizia que não poderiam fazer isso, mas descobrir o que estava atacando as pessoas e os animais, pois na manhã encontraram muitos animais mortos que serviram de alimento a algum ser faminto.
O pai de Safadinho foi mais incisivo e conseguiu convencer a todos irem até a casa do seu Clarão. Foram até em casa e pegaram vários tipos de armas: facão, enxada, foice, arma de fogo.
Foram até perto do rio e pegaram o seu Clarão, ele pedia misericórdia, pois não tinha feito nada de errado. Muitos gritavam morte ao lobisomem. O seu Clarão só não foi morto ali mesmo porque chegou a tempo o delegado que teve que dar um tiro para o alto, assim todos ficaram quietos e prestaram atenção nele.
- Ninguém vai matar ninguém aqui, vou levá-lo e investigar essa história.
Os homens ficaram brabos com o Romântico, porque foi ele que chamou o delegado. Os homens raivosos foram todos pra frente da subdelegacia pedir para o delegado entregar o lobisomem pra eles.
- Entregue ele pra nós, queremos justiça. – Gritavam com raiva.
Romântico apareceu e disse a eles:
- Tenham calma, se ele for o lobisomem, que eu acho que não é, ele irá se transformar essa noite novamente. Se isso acontecer podem pegar ele fazer o que quiserem.
Com isso eles ficaram calmos e todos foram para casa.
Chegou a noite novamente, a terceira de lua cheia. Todos os moradores foram pra frente da subdelegacia, porque queriam ver a transformação. O delgado trouxe o seu Clarão na frente de todos, mas longe o suficiente pra que nada de mal acontece. A lua cheia brilhava linda, estava no seu auge, grande que dava a noção de que poderíamos tocá-la. Todos estavam atentos, de repente começaram a ouvir uns uivos alto, todos gritaram e se estremeceram de medo, olharam para o seu Clarão, ele continuava no mesmo lugar com a mesma forma humana que sempre teve.
Na frente deles apareceu dois animais enormes, começaram a gritar:
- São dois lobisomens, socorro! - e muitos saíram correndo. Os que ficaram ouviram dois tiros e viram os dois animais caírem. Um gritou bem alto:
- Atacar!
Todos se lançaram em cima dos dois animais com enxadas, foices e facões. Mataram os dois e nem ouviram o grito de duas pessoas que estavam atrás pedindo para eles pararem. Depois que terminaram com a carnificina, houve um grande silêncio e todos esperavam que os dois lobisomens voltassem à forma humana, mas isso não aconteceu, atrás deles dois homens desesperados foram empurrando a todos pedindo licença e se jogaram em cima dos dois animais dizendo:
- Vocês estão loucos? Eram dois lobos que fugiram do trem que estava passando por aqui. Estavam sendo levados para o zoológico.
Todos ficaram espantados e chateados, não pela morte dos dois lobos, mas pelo que eles poderiam ter feito com o seu Clarão.
Seu Clarão foi solto e continuou a viver sua vida do mesmo modo que antes, só que agora tinha muitos amigos que o visitavam para ouvir suas histórias, principalmente as crianças. Mas como toda história tem dois lados, até hoje tem gente que diz que o seu Clarão é lobisomem e ataca toda noite de lua cheia.






sexta-feira, 11 de maio de 2018

ERA UMA VEZ UMA VILA - HISTÓRIA 4 - ERA UMA VEZ O JORNAL DA VILA

ERA UMA VEZ O JORNAL DA VILA
Toda Vila tem um jornal (pra não chamar de fofoqueira, porque é uma palavra um pouco ofensiva, vou chamar essa personagem de jornal da Vila). Esse jornal é uma pessoa que sabe da vida de cada um da Vila, que sabe quem chega, quem sai (pois mora em frente ao ponto de ônibus da Vila). Quando vê um da Vila saindo grita de sua janela, o ponto do jornal:
Compadre já está indo receber o pagamento? Ou:
Fulano já está deixando a mulher com os filhos pra cair na esbórnia. Ou:
Queridinho estava estudando ou estava torrando o dinheiro que seu pai dá pra
você?
Quando vê um forasteiro (assim que ela chamava as pessoas que ela não conhecia) já perguntava:
Está procurando alguém? É algum cobrador? Quem está devendo para você?É
delegado de polícia? Veio prender alguém? O que ele fez? Me conte, me conte…
Não dava tempo nem da pessoa responder. O forasteiro cansava e desistia de responder e ia fazer o que tinha que fazer, deixando o jornal da Vila com suas próprias interpretações. E o jornal da Vila interpretava muito bem (na verdade imaginava muito bem), mas essas imaginações tornavam-se reais e espalhavam-se pela Vila como um rastilho de pólvora.
O povo da Vila dizia que ela tinha parte com o demo. Uma senhora, já no seus 80 anos (se dizia amiga dela), ia além e contava para todos:
Não se meta com o jornal da Vila, pois ela me mostrou um livro de magia, me
disse que recebeu do próprio demo. Com esse livro ela descobriu uma botija de ouro debaixo de uma árvore.
Os netos dessa senhora com idade avançada, mas lúcida para contar história, perguntou a ela:
Vó quem enterrou essa botija?
E a vovó se remexia em sua cadeira de balanço, dava uma baforada em seu cachimbo, soltava a fumaça, olhava para essa fumaça como se as histórias estivessem contidas ali através de imagem, e contava:
Dizem que aconteceu uma guerra nessas terras, eles chamaram de Guerra do
Contestado. Morreu muita gente, as pessoas tropeçavam nos corpos caído no chão, crianças órfãs vagavam sem destino por essas matas. Muita gente tinha dinheiro, ouro, jóias. Para não perderem esse riqueza para os saqueadores, eles enterravam debaixo de uma árvore, para que depois que terminasse a guerra tivessem algum dinheiro para recomeçar. Muitos morreram e como suas almas não conseguiram se desapegar dos bens materiais ficavam vagando embaixo da árvore, bem em cima da cova onde estava enterrado a riqueza. E só com esse livro que o jornal da Vila tem que se consegue achar. E o jornal achou e ficou bem de vida, não precisou trabalhar nunca, por isso tem bastante tempo de cuidar da vida dos outros.






sexta-feira, 4 de maio de 2018

ERA UMA VEZ UMA VILA - HISTÓRIA 3 - ERA UMA VEZ BRINCADEIRAS INDÍGENAS



A aldeias estavam prontas: Aldeia Calico e Aldeia Sen. Os indígenas todos vestidos a caráter para a guerra que estava preste a começar.
A Aldeia Calico ficava próximo ao campo de futebol, onde tinha muita samambaia, os membros dessa tribo fizeram ocas com galhos de árvores e samambaias secas.
A Aldeia Sen ficava perto do riacho, onde tinha uma grama alta seca, as ocas eram cobertas com essa grama.
Os líderes das duas aldeias fizeram as regras da guerra: ninguém podia se machucar, as flechas teriam que ser sem pontas, não brincar com fogo, cuidar ao subir nas árvores, ter segurança para voar de cipó.
A brincadeira de guerra começou com as crianças da Vila. Era uma alegria só, mesmo aqueles que se fingiam de morto davam muita risada. Era flechada pra cá, era flechada para lá; de repente um bando de crianças vestidos de tangas, feitas pelas suas mães, voavam alegres, com os cabelos negros, loiros, brancos e ruivos, arrepiados pelo vento, gritando numa alegria só.
A Aldeia Calico estava ganhando a batalha. A aldeia Sen pediu uma trégua para redirecionar sua estratégia. E aí a coisa ficou complicada.
Um dos meninos da Aldeia Sen disse que, se quisessem ganhar, teriam que fazer uma coisa mais radical, como quebrar algumas regras. O líder disse que não, pois tinham que ganhar sendo justos, era melhor perder do que ser injusto.
Mas, quando uma criança é birrenta, é difícil controlar.
Na aldeia Calico todos estavam descansando tomando uma água fresca para terem fôlego no final da batalha. O irmãozinho do líder, de 4 anos, que não poderia participar, por causa da idade, de tanto insistir estava na brincadeira, mas seu irmão disse que ele tinha que ficar dentro da oca.
O menino birrento da Aldeia Sen resolveu levar sua ideia radical adiante. Colocou fogo numa tocha e foi escondido para a Aldeia Calico. Chegou próximo à oca da aldeia e colocou fogo na samambaia seca. A oca estava em chamas em pouco tempo. O líder se desesperou e começou a gritar: “Meu irmãozinho está lá dentro, socorro!!!”.
A irmã mais velha do líder ouviu os gritos e saiu correndo em direção à oca, entrando nela, pegou o irmão ligeiro e saiu correndo. Os dois tiveram algumas queimaduras leves, mas sobreviveram e só ficou na lembrança esse triste episódio.
Depois disso as crianças foram proibidas de brincar de índio, mas vocês sabem como são os meninos, só foi passar uns meses e eles começaram a brincar novamente, com duas novidades: com muito mais regras e com uma nova personagem: Tarzan.