sexta-feira, 29 de abril de 2011

Encontro de Formadores

Aviso a todos os participantes da Escola Biblico-catequética de Formadores Seguidores do Mestre, que o 2º Encontro foi adiado para dia 29 de maio no mesmo local. Motivo: várias paróquias estarão com atividades referentes à missões.
Obrigado.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sacramentos

SACRAMENTOS: ENCONTROS COM CRISTO

Célio Reginaldo Calikoski


No livro “Os Sacramentos – trocados em miúdos, José Ribólla nos diz que temos sete encontros especiais com Cristo em sete realidades em nossa vida.

Vou descrever em poucas palavras os meus encontros com Cristo.

1 . Primeiro Encontro – realidade da minha vida: NASCIMENTO; Encontro: BATISMO.

Quando, ainda pequeno, sem consciência de entender muitas coisas, meus pais, juntamente com meus padrinhos, me levaram à Igreja para ser batizado. Eles confirmaram perante o Padre e a Igreja a opção por ser cristão católico, me tornando, através de Jesus, filho de Deus.

2 . Segundo Encontro – realidade da minha vida: LIMITAÇÃO; Encontro: RECONCILIAÇÃO.

Eu, como qualquer pessoa, sou limitado, e caio pelo pecado, erro, mas, como um filho pródigo, procuro meu PAI MISERICORDIOSO. Como eu faço isso? Procurando um Padre para me confessar. Com a confissão eu faço a RECONCILIAÇÃO, voltando para os braços de meu Pai Misericordioso; DEUS. Essa volta não é fácil, pois tenho que fazer um exame em minha consciência, passar a limpo minha consciência, para ver e assumir meus pecados e se arrepender deles, após isso tenho que contar ao Padre, e através do Padre, ganhar a absolvição e ter a firmeza de não pecar novamente.

3 . Terceiro Encontro – realidade de minha vida: ALIMENTO; Encontro: EUCARISTIA.

A Eucaristia é o Sacramento maior, Jesus instituiu na última ceia com seus apóstolos. Eu necessito desse alimento pelo menos uma vez por semana. E como esse alimento me dá forças para levar a semana! Principalmente na firmeza de minha fé no Cristo Ressuscitado.

4 . Quarto Encontro – realidade da minha vida: CRESCIMENTO; Encontro: CRISMA.

Preciso de muita força para manter e transmitir a minha fé em Cristo ressuscitado, para isso recebi o Sacramento do Crisma. O espírito Santo me ilumina para utilizar os dons recebidos em favor da comunidade através da catequese e da liturgia.

5 . Quinto Encontro – realidade da minha vida: CASAMENTO; Encontro: MATRIMÔNIO.

O homem e a mulher se unem para a multiplicação do povo de Deus. Para essa união é necessário amor e também Cristo na vida a dois. O casal precisa se alimentar na beleza da Liturgia, indo à missa toda semana. O Matrimônio é o Sacramento que me completa como homem constituidor de uma família, não sozinho, mas, com uma esposa que me ajuda a ver Cristo em outro ser humano, que me completa como Filho de Deus, que me ajuda e que permite que eu ajude nos problemas do dia a dia.

6 . Sexto Encontro – realidade da minha vida: DOENÇA; Encontro: UN ÇÃO DOS ENFERMOS.

Na doença precisamos de ânimo, e, o melhor ânimo é um Sacramento da Cura, chamado Unção dos Enfermos. Em duas vezes na minha vida recebi esse Sacramento: duas cirurgias. Ele me ajudou a ter esperança e ânimo para enfrentar esses dois momentos dramáticos na minha vida.

7 . Sétimo Encontro – ORDEM.

Esse Sacramento não é para todos, somente aqueles que decidem viver uma vida de dedicação exclusiva a Deus, recebem esse Sacramento.

A minha vida é regida pelos sacramentos da Igreja, pelos encontros com Cristo. É uma dádiva receber os Sacramentos e maravilhoso vivê-los no dia a dia. Portanto procure ser um cristão por inteiro: se encontre com Cristo através dos Sacramentos, sua vida se tornará mais leve e gostosa de viver.

BIBLIOGRAFIA:

  • RIBÓLLA, José. Os Sacramentos – trocados em miúdos. 25ª ed. Ed. Santuário. Aparecida – SP. 2008;

  • CNBB. Catecismo da Igreja Católica. Ed. Loyola. São Paulo. 2000.





terça-feira, 19 de abril de 2011

documento final do 5º Seminário Nacional de Catequese junto à Pessoa com Deficiência

Divulgado documento final do 5º Seminário Nacional de Catequese junto à Pessoa com Deficiência

Os participantes do 5º Seminário Nacional de Catequese junto à Pessoa com Deficiência, realizado entre os dias 25 e 27 de março, em São Paulo (SP), “A Igreja e a Pessoa com Deficiência”, divulgaram o documento final do evento, “Catequese é Vida”.

No texto, os participantes destacam que a Igreja se propõe à inclusão das pessoas com deficiência para que os “jovens e adultos com deficiência façam parte das ações evangelizadoras com protagonismo, autonomia e independência”.

O documento também propõe que a Igreja, em nível nacional e regional, no âmbito da CNBB, “seja constituída uma Pastoral das Pessoas com Deficiência, com pessoal, meios e recursos necessários com vistas a desenvolver trabalhos de inclusão desse segmento na sociedade e na Igreja”.

Leia abaixo o texto:

DOCUMENTO CATEQUESE É VIDA
1. Considerando: O resultado do Censo 2000 realizado pelo IBGE que teve como resultado de que há no país cerca de 25 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, correspondendo a 14,5% da população;

A realização pela CNBB, em 2006, da Campanha da Fraternidade “Fraternidade e Pessoas com Deficiência”, onde houve a possibilidade de uma tomada de consciência maior sobre a condição social dessas pessoas;

A aprovação pela Organização das Nações Unidas – ONU da Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, e sua ratificação pelo Estado brasileiro em 2008, tornando-se a referência maior em nível legal para promoção dos direitos e da inclusão social dessas pessoas;

Que a Igreja tem, cada vez mais, se organizado para promover a o direito à religiosidade e à espiritualidade e à Catequese dessas pessoas, entendendo que “o Corpo Místico de Cristo e a Sociedade não estão completos sem a participação das Pessoas com Deficiência”;

Que ainda há muito a construir para promover a inclusão dessas pessoas no seio da Igreja.

2.Propõe-se que:
Todas as crianças católicas com deficiência sejam incluídas nas ações de catequese;

Esta inclusão seja realizada, prioritária e preferencialmente juntamente com as crianças sem deficiência;

o Os jovens e adultos com deficiência façam parte das ações evangelizadoras com protagonismo, autonomia e independência;
o Seja assegurada acessibilidade Física e da Comunicação em todos os espaços da Igreja;

o Que os princípios da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência sejam incorporados também como princípios da Igreja.

o Que em nível nacional e regional, no âmbito da CNBB, seja constituída uma Pastoral das Pessoas com Deficiência, com pessoal, meios e recursos necessários com vistas a desenvolver trabalhos de inclusão desse segmento na sociedade e na Igreja;

o Esta Pastoral possa contar com os Movimentos e Pastorais hoje existentes, como a Pastoral dos Surdos, o Movimento Fé e Luz, a Arca, a Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência e outros;

3. Reivindica-se que:
o Os órgãos Públicos implementem políticas de Atenção às Pessoas com Deficiência conforme preconizadas pela Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, pelo Sistema Único de Saúde – SUS, pelo Sistema Único de Assistência Social – SUAS e pelas demais políticas públicas de atenção aos direitos de cidadania dessa população;

o Que o Congresso Nacional suspenda a tramitação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, até que seja promovido um amplo debate do mesmo com o segmento e que sejam respeitados os preceitos constantes da Convenção Internacional da ONU.


CÂNTICO À NATUREZA


Estamos refletinto, este ano de 2011, sobre Fraternidade e Vida no Planeta. Esta mensagem é belíssima para sintetizar o que o Planeta Terra está sentindo em relação a nós seres "dominadores" da natureza. Assista e reflita sobre seus hábitos em relação a nossa Mãe Terra. Para assistir basta clicar na imagem.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

CATEQUESE MISTAGÓGICA

A CATEQUESE MISTAGÓGICA

Pe. Roberto Nentwig

Regina Menon

  1. Por que falar de mistagogia?

O tema mistagogia aparece em um momento de urgência de renovação da Igreja e de nossas práticas evangelizadoras.

As vozes do documento de Aparecida ainda ecoam em nossos ouvidos, proclamando a necessidade de deixar uma pastoral de mera conservação, avançando para a renovação das estruturas eclesiais (DAp 366-368). Diante do indiferentismo religioso, da falta de consciência cristã dos batizados e da grande massa de católicos que buscam nossas comunidades como “fregueses” dos serviços eclesiais, faz-se necessária uma renovação de métodos. Na catequese, não podemos mais nos contentar com a falta de engajamento dos muitos que recebem os sacramentos de iniciação e depois somem da Igreja.

Diante de tal realidade com a qual se depara nossa prática pastoral, precisamos tomar consciência de que estamos em tempos de evangelização. Tempos em que urge o primeiro anúncio da alegre boa nova, levando nossos interlocutores ao encontro pessoal com Jesus Cristo, na adesão ao seu Reino. É urgente uma catequese mistagógica que resgate os tempos áureos dos primeiros séculos para renovar a prática catequética.

  1. O que é mistagogia?

Mistagogia é um termo grego que significa “conduzir ao mistério”. Segundo Pe. Gilson Camargo, é possível traduzir o termo por “ter domínio” do mistério. É evidente que esta expressão precisa ser bem interpretada, já que Deus não é alguém que dominamos, além do que a vida nele é uma graça, não depende somente de nossos esforços. Um cristão mistagogo tem intimidade com o mistério divino e deixa transparecer Deus de modo simples e fácil.

Cabe explicitar que este “mistério” não é um segredo inatingível. O Novo Testamento define “mistério” como o desígnio divino oculto em Deus desde todos os séculos (Ef 3,9), agora revelado em Jesus Cristo (Cl 1,26-27). Portanto, ser conduzido ao mistério é encontrar-se com a pessoa de Jesus Cristo, acolhendo o desígnio do Pai (a salvação) na força do Espírito Santo. A experiência cristã, portanto, não é um sentimentalismo vazio, nem um mero aprendizado teórico, mas a experiência viva que leva o fiel a aderir ao Reino de Deus, o projeto do Pai, em comunidade, assumindo a dinâmica renovadora da Páscoa: o mistério de morte e ressurreição (Rm 6,8-11; Fl 3,10-11).

O termo mistagogia designa o último tempo do processo catecumenal. Trata-se de um tempo que valoriza muito a liturgia do Tempo Pascal, com a finalidade de fazer o neófito experimentar a Páscoa do Senhor e sentir-se acolhido pela comunidade da qual começou a fazer parte pelos sacramentos. Na Igreja antiga, as catequeses mistagógicas tinham a finalidade de levar os neófitos a aprofundar os sinais que foram manifestos na recepção dos sacramentos da iniciação.

Ao tratarmos de mistagogia na catequese, no entanto, não estamos falando de um tempo determinado, pois todo o processo catequético deve ser permeado pela mistagogia, ou seja, deve ter a finalidade de levar Deus ao coração e à vida dos interlocutores.

  1. Caminhos mistagógicos

Destacamos três caminhos que contribuem para uma catequese mistagógica: a Palavra, a liturgia e a oração.

a) Palavra. Tanto a tradição da Igreja como as Escrituras são fontes da Palavra de Deus. Sobretudo, destaca-se a Bíblia, “livro por excelência da catequese”, como fonte primordial da atividade catequética. Ainda carecemos de uma catequese mais bíblica, do uso frequente da Escritura nos encontros, de uma intimidade maior no uso da Bíblia por parte do povo católico.

Os documentos da Igreja têm insistido sobre a prática da leitura orante, como um caminho eficaz para o uso da Escritura na pastoral. A lectio divina destaca-se como um método de leitura orante em consonância com a grande tradição da Igreja. Inspirada na oração dos monges, conserva quatro passos que remontam ao monge Guido (séc. XII), escritor do livro A escada dos monges (BOFF, 2006):

- Ler: leitura calma, pausada, procurando saborear cada palavra;

- Meditar: como a Palavra aplica-se na vida da pessoa;

- Orar: deixar a oração, a prece, o louvor brotar da Palavra;

- Contemplar : sentir-se amado por Deus. Os místicos falam deste estágio como o mais elevado, como total entrega a Deus.

Esses degraus não precisam ser necessariamente justapostos (vir um após o outro). É importante que primeiro se faça a leitura e, depois, deixe brotar a oração de acordo com a inspiração do Espírito e as características próprias do grupo.

b) Liturgia. A liturgia, por si só, tem uma dimensão catequética. As celebrações, com sua riqueza de palavras e ações, são uma verdadeira “catequese em ato” (CR 89).“Embora a sagrada Liturgia seja principalmente culto da majestade divina, é também abundante fonte de instrução para o povo fiel” (SC 33). Uma celebração bem preparada, participada e adaptada à realidade com verdadeira dignidade e cheia do verdadeiro sentido litúrgico, educa na fé, recorda os seus conteúdos centrais, renova o ideal de vida cristã e incrementa a consciência de pertença eclesial. Pela ação do Espírito Santo, a liturgia alimenta e estimula ao compromisso com a vida.

Há uma contínua união entre Palavra e símbolo, colaborando para que o conteúdo da fé seja interiorizado, não permanecendo como uma mera teoria: “O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca mais profundamente do que uma simples instrução e interioriza o que foi aprendido e proclamado, realçando a dimensão de compromisso” (IVC 44). Na liturgia há o envolvimento corporal por cantos, gestos, vozes, silêncio, de modo que a união entre atitudes do corpo, símbolo e Palavra contribuam para uma experiência mais concreta do mistério:

Na liturgia conjuga-se 'o que se diz' e a 'maneira de dizer'. Gestos e palavras transmitem seu sentido no próprio ato. Por isso mesmo são até mais expressivos do que discursos e ensinamentos. (…) Mais do que compreender por intelecção o importante é que se experimente algo do mistério pascal de Cristo. Se celebrado com intensidade e profundidade não haverá risco da banalização repetidora (PERUZZO, 2010, p. 33).

O Diretório Nacional de Catequese corrobora esta ideia, afirmando a necessidade de um itinerário catequético que inclua um itinerário celebrativo como componente indispensável (DNC 118):

As festas e as celebrações são momentos privilegiados para a afirmação e interiorização da experiência da fé. O RICA é o melhor exemplo de unidade entre liturgia e catequese. Celebração e festa contribuem para uma catequese prazerosa, motivadora e eficaz que nos acompanha ao longo da vida. Por isso, os autênticos itinerários catequéticos são aqueles que incluem em seu processo o momento celebrativo como componente essencial da experiência religiosa cristã. É esta uma das características da dimensão catecumenal que hoje a atividade catequética há de assumir.

Toda a atividade da Igreja tem suas forças arraigadas na liturgia. A catequese deve conduzir à vivência litúrgica, pois esta sintetiza a experiência cristã. Sobretudo aqui, destaca-se o uso de símbolos e gestos litúrgicos, pois estes afetam áreas do ser humano que o conteúdo racional não alcança. Uma catequese mais celebrativa e orante traz a força do significado dos ritos, conduzindo os interlocutores, de modo eficaz, à vivência do Evangelho.

c) Oração. A catequese deve ser “permeada por um clima de oração” (DGC 85). O encontro catequético não deve parecer uma aula ou palestra, mas ser um espaço aberto para o diálogo com Deus. Qualquer conteúdo exposto deve ser interiorizado pela prece, sobretudo valorizando a espontaneidade e a criatividade. Hoje muitos cristãos rezam somente fazendo pedidos. É preciso que nossos catequizandos exercitem a oração como meio para experimentar o amor de Deus, acolhendo o mistério divino de um modo afetivo.

Já falamos da importância da Sagrada Escritura como caminho mistagógico. A Bíblia é a principal fonte da oração: o fundamental é partir da leitura do texto sem a pretensão de encontrar verdades, mas para acolher o sentido espiritual. Depois da leitura, muitos são os caminhos que nos ajudam a orar: repetir as frases do texto pausadamente (pedir que o grupo repita), cantar refrões, fazer preces espontâneas... Convém, seguindo a tradição da Igreja, concluir o momento orante com um Pai-Nosso, reunindo todas as preces. Um caminho por vezes esquecido é o silêncio. É preciso deixar Deus falar, imaginando-se, por exemplo, no cenário do texto lido (método Jesuíta). Enfim, o importante é que a Palavra seja o guia mestre de nossa oração.

  1. O catequista mistagogo

O catequista mistagogo é um instrumento que facilita o encontro dos seus catequizandos com o mistério divino. A Palavra tem forte relação com o seu proclamador. No contexto da revelação, não basta saber com exatidão o que é pronunciado, mas é preciso conhecer quem comunica, pois quem enuncia é também mensagem.

A força reveladora e realizadora da Palavra de Deus são evidenciadas na catequese. Também o catequista, seguindo a lógica da revelação, não apenas transmite verdades, mas revela o próprio Deus. Para que este mistério aconteça com eficácia, o catequista não fala de si mesmo, mas a partir do seu encontro com o Senhor, de sua experiência, de sua vida.

Catequese significa fazer ecoar. Ela será um verdadeiro eco da Palavra de Deus se o catequista deixar transbordar do seu interior aquilo que nele está repercutindo. Aquele que ouve, por sua vez, acolhe em seu coração este transbordamento e passa a também ser um eco da mesma Palavra.

São Paulo nos diz que somos um texto vivo da Palavra; “Sois uma carta de Cristo, redigida por nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus Vivo” (2Cor 3,3). O catequista, portanto, é uma carta de Deus, em texto vivo. Fala mais pela sua vida do que por suas palavras, comunica mais com o seu jeito de ser, com sua alegria e amor do que com suas ideias. Por isso, para catequizar, o catequista deve se deixar escrever pelo Espírito Santo. Deixará que o amor seja impregnado em seu coração, lembrando que este é um mistério para os simples: “Eu te louvo, ó Pai, porque escondestes estas coisas dos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25).

Portanto, o catequista mistagogo é aquele que se encontrou com o Senhor, assumiu o seu projeto em sua prática de vida e deseja, por um ímpeto interno, anunciar a experiência realizada (1Cor 9,16), além de não descuidar da formação continuada. Não basta mudar os métodos se não houver catequistas que transmitam a verdadeira experiência de encontro com Cristo.

  1. Elementos para uma catequese mistagógica

Não se pode falar de mistagogia sem abordar o processo catecumenal. O catecumenato foi resgatado como forma ordinária de iniciação de adultos, seguindo a metodologia do RICA. Sua eficácia evangelizadora fez dele um modelo inspirador para outros processos catequéticos, como afirma o Diretório Geral para a Catequese: “Dado que a missão ad gentes é o paradigma de toda a missão evangelizadora da Igreja, o Catecumenato batismal, que lhe é inerente, é o modelo inspirador da sua ação catequizadora” (DGC 90). O Diretório Nacional também afirma: “é a inspiração catecumenal que deve iluminar qualquer processo catequético” (DNC 45). Assim, é nossa missão construir itinerários de educação na fé de inspiração catecumenal. Deste modo, estaremos favorecendo uma catequese mistagógica

Para alcançar este objetivo, é preciso conhecer a metodologia catecumenal. São características essenciais da metodologia catecumenal: seu caráter cristocêntrico e gradual, a função eclesial, a centralidade do mistério pascal, a inculturação, a formação intensa e integral vinculada a ritos e símbolos (IVC 72-73).

Portanto, um itinerário catequético catecumenal e, consequentemente mistagógico, não é uma repetição do que nos é proposto pelo RICA, mas a aplicação criativa da metodologia catecumenal. Seguem algumas pistas que podem nos ajudar.

- Realizar encontros celebrativos: os gestos, os ritos, os sinais da liturgia são bem vindos na catequese. Comunicamos mais dos mistérios divinos pelo uso de sinais do que pelo enunciado de teorias.

- Aproximar os catequizandos da liturgia: é preciso que compreendam e se apaixonem pela liturgia, sobretudo pela participação ativa das celebrações eucarísticas.

- Realizar celebrações catequéticas. É muito oportuno fazer com os catequizandos algumas celebrações da Palavra, convidando os familiares, reunindo outras turmas. Os próprios catequistas podem conduzir estes momentos, inspirando-se nos conteúdos catequéticos, valorizando e partindo sempre da Proclamação da Palavra – da palavra brota a oração em comunidade.

- Realizar celebrações de entrega e ritos de passagem. É preciso resgatar o sentido da gradualidade do processo catequético presente no catecumenato. O catequizando deve sentir que ele avança a cada dia no caminho. A realização de algumas celebrações de passagem pode ajudar neste sentido. Aqui merecem destaque as entregas, tão valorizadas no catecumenato: pode haver uma celebração festiva, com toda a comunidade, com a entrega de um símbolo para cada etapa do itinerário: a Bíblia, o Pai Nosso, o Credo, a Cruz, as Bem Aventuranças... Outras celebrações também são carregadas de significado: celebração de acolhida (no início das atividades catequéticas, com as famílias), celebração de envio... Convém que as celebrações de entrega aconteçam na celebração eucarística, com a assembleia reunida. Deste modo, intensifica-se a consciência da participação comunitária.

- Valorizar o tempo litúrgico. É preciso retomar toda a riqueza do Ano litúrgico e a centralidade do Mistério Pascal. O tempo da Quaresma, com sua riqueza, é um forte momento para se vivenciar a fé por gestos concretos, principalmente aproveitando-se a Campanha da Fraternidade. Não esqueçamos também do apelo à oração, das celebrações penitenciais, via sacras... O Tempo Pascal é o centro do Ano Litúrgico. Convém que a iniciação eucarística e a Confirmação sejam celebradas neste tempo, vinculando-os ao sentido da vida nova que brota da Ressurreição do Senhor.

- Conduzir os catequizandos para a participação em atividades evangélico-transformadoras. Não podemos nos esquecer de que a mistagogia é uma educação para o viver cristão. Não basta a Palavra, a liturgia e a oração se não nos convertemos. Assim, é muito oportuno que os catequizandos realizem atividades que os eduquem para a caridade e o compromisso social, como atividades em prol da ecologia, visitas em instituições sociais, campanhas, etc.


Uma catequese mistagógica necessita de agentes mistagogos. Que pela graça do Espírito, sejam suscitados pessoas que deixem transbordar do seu interior o encontro decisivo com o Cristo, Senhor, na adesão ao seu Reino. Só assim, teremos uma catequese viva, mais querigmática, bíblica, celebrativa, orante e mistagógica!

Lista de Siglas

CR

Catequese Renovada: orientações e conteúdo

DAp

Documento de Aparecida

DGC

Diretório Geral para a Catequese

DNC

Diretório Nacional de Catequese

IVC

Iniciação à Vida Cristã

RICA

Ritual da Iniciação Cristão de Adultos

SC

Constituição Sacrosanctum Concilium


Referências

BOFF, Clodovis. Meditação como fazer?. Petrópolis: Vozes, 2006.

CELAM. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe: 13-31 de maio de 2007. Brasília/São Paulo: CNBB/Paulus/Paulinas, 2007.

CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório Geral para a Catequese. São Paulo: Loyola, 1998.

CNBB. Catequese Renovada: orientações e conteúdo. São Paulo: Paulinas, 1983. (Documentos da CNBB n. 26)

______. Diretório Nacional de Catequese. Brasília: Edições CNBB, 2006. (Publicações da CNBB: Documento 1).

______. Iniciação à vida cristã: um processo de inspiração catecumenal. Brasília: Edições CNBB, 2009. (Estudos da CNBB n. 97).

KLOPPENBURG, B. (org) Compêndio do Vaticano II: Constituições, decretos e declarações. 25ª ed. Petrópolis ,RJ: Vozes, 1996.

PERUZZO, José Antonio. Catequese e Querigma. Revista de Catequese, São Paulo: Instituto Teológico Pio XI, n. 129, p. 29-34, janeiro-março, 2010.

PREVENIR OU PROIBIR

CNBB – REGIONAL SUL 2 – 17/04/2011

PREVENIR OU PROIBIR?

Por Dom Antonio Augusto Dias Duarte RIO DE JANEIRO, domingo, 17 de abril de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos a seguir artigo de Dom Antonio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, intitulado “Prevenir ou Proibir?”. O texto foi enviado a ZENIT pelo bispo nessa sexta-feira.

Recentes e dolorosos acontecimentos vividos por adolescentes, seus pais e parentes, seus professores, bem como por policiais, religiosos e políticos envolvidos nesses momentos difíceis da Cidade Maravilhosa, conduzem o povo e toda a sociedade brasileira às necessárias e inadiáveis interrogações abaixo escritas. O que está acontecendo no meio social para que tanta violência nunca acabe? Será uma falta de maiores proibições, seja por meio de leis mais claras e exigentes, seja por ações policiais mais repressivas? Será que só campanhas de desarmamento da população, motivadas por emoções momentâneas, resolverão toda essa violência? Essas perguntas certamente suscitarão variadas e discutíveis respostas que não cabem nessas linhas, mas cabe à Igreja Católica, como Mãe e Mestra, ir ao encontro dessasinterrogações e dar a cada uma delas um giro de 180°. A maternidade espiritual e a pedagogia milenar da nossa Igreja conduzem nessas horas de dor e de questionamentos a uma posição sábia e serena, partindo de umas palavras do seu divino fundador, Jesus Cristo. Diante das mortes violentas acontecidas no seu tempo Jesus não as questionou como se elas fossem castigo de Deus para os falecidos por esses serem pecadores, mas advertiu aos que lhe levavam essa questão dolorosa e misteriosa no sentido que eles – e a humanidade ao longo dos tempos – se convertessem, pessoal e profundamente, para que também não perecessem. A conversão de uma sociedade onde a violência acontece dar-se-á na medida em que os homens e as mulheres que a constituem se convertam, não só dos seus pecados, mas principalmente se tornem pessoas capazes de perceberem os sinais de desordens afetivas, psíquicas e sociais dentro das famílias, das escolas e dos ambientes de trabalho e de diversão.

Geralmente, os desequilíbrios humanos são “anunciados” no tempo devido e poderiam ser preventivamente vigiados, cuidados e até mesmo curados, se nas famílias, nas escolas, nas comunidades, houvessem pessoas convertidas em cidadãos responsáveis pelo futuro da sociedade, especialmente pelo futuro da infância e da adolescência brasileira. Dizem – nem sempre é regra geral – que os brasileiros só trocam as fechaduras das portas depois que suas casas são assaltadas, e vão a procura de “soluções-mágicas” para os problemas de sempre. Acontece que uma prevenção de desequilíbrios comportamentais pode ser uma “solução-mágica” desde que as famílias brasileiras tenham consciência de que não são simples moradias, mas lares onde se tornam realidades projetos divinos a favor dos homens, começando pelo principal projeto: ser uma família onde a única lei é a do amor gratuito, generoso, concreto e fiel. Os desajustes sociais e os desequilíbrios mentais se desenvolvem, geralmente, em pessoas que nasceram e cresceram em lares frios, violentos, desajustados emocionalmente, onde o amor não existia ou só era reclamado e não vivido pessoal e familiarmente. A Igreja Católica, Mãe e Mestra e perita em humanidade, deseja ser mais ouvida e valorizada quando, a serviço de todas as pessoas, independentemente de suas crenças e condições sociais, anuncia que a família tem sua fundação no casamento entre um homem e uma mulher, tem seus momentos de equilíbrio e ajuste das relações humanas no amor, no perdão, na reconciliação e... na prevenção a partir da percepção de sinais significativos de desequilíbrios. Não são suficientes as “soluções-mágicas” procedentes de segmentos políticos e de segurança pública extra-familiares, se “as portas da vida”, que é a família bem constituída e sadia, emocional e socialmente, continuarem sem as medidas políticas, econômicas e educacionais favoráveis e eficazes para um correto desenvolvimento psíquico, ético e social do ser humano, dentro da normalidade do amor dos pais, dos irmãos, dos colegas de escola, numa palavra, dentro do valor insubstituível do amor-respeito pelos diferentes ou pelos que vivem carentes de paz interior. Será que as tragédias só são capazes de despertar emoções que são instantâneas e com pouca inteligência para resolvê-las?

A Igreja Católica deseja que com prevenções mais racionais e vigilantes se possa despertar os corações humanos para que se criem famílias melhor assistidas, para que se desenvolvam políticas educacionais mais amplas e que incluem valores religiosos e cívicos suficientemente fortes para dar equilíbrio humano às crianças e aos jovens, para que hajam projetos de comunicação social, cada vez mais benéficos à humanidade, especialmente para essas partes do mundo tão queridas por Deus como é a infância e a adolescência.

Oxalá esses dramas humanos recentemente vividos no Rio de Janeiro conduzam à prevenção justa e amorosa e não só a leis repressivas projetadas e depois aprovadas pelo Congresso Nacional!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Filme Adeus Lênin

ADEUS LÊNIN

CELIO REGINALDO CALIKOSKI

A queda do muro de Berlin, em 1989, e as suas consequências para o povo alemão é o tema deste belíssimo filme.

O filme tem início em 1978, onde um pai de família, com dois filhos, foge da Alemanha Oriental (Alemanha Comunista) para a Alemanha Ocidental. A mãe continua na Alemanha Oriental, onde termina de criar os filhos e se torna uma militante comunista.

Em outubro de 1989 ela vê seu filho protestando contra o regime comunista e sofre um problema cardíaco e fica em coma por oito meses. Quando volta do coma, não existe mais Alemanha Comunista. Seu médico diz ao filho que ela não pode sofrer emoções fortes.

Ele então resolve encher a casa com produtos comunista e fingir que o capitalismo está a quilômetros de distância.

O filme tem vários pontos de vista interessantes. Um deles é o amor do filho que não queria que a mãe sofresse quando soubesse que a ideologia que ela acreditava não existia mais.

O outro ponto de vista é os dois lados da queda de um regime: onde o povo valorizava produtos nacionais e, da noite pro dia, tudo muda, não encontrando mais os produtos tão conhecidos e sim, somente produtos importados. Por outro lado, o povo fica alegre com a liberdade de ir e vir, de um mesmo povo não estar mais divididos e, sim unidos numa só nação.

A cena mais interessante do filme é quando a mãe sai, pela primeira vez de casa, depois do coma, e vê um helicóptero levando o busto de Lênin embora. O busto chega bem próximo dela como se tivesse se despedindo dela.

Adeus Lênin tem um pouco de comédia, política, drama. Um filme excepcional esquecido nas prateleiras das locadoras. Se você tiver oportunidade assista e conheça um pouco de nossa história contemporânea.

Ficha técnica: Adeus Lênin; Direção: Wolfgang Becker; Artistas: Daniel Brühl, Katrin Sass; Duração: 121 minutos.

Quer assistir o trailer clique na imagem.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Filme Crazy - Loucos de Amor

Zachary, ou simplesmente Zac, vem ao mundo no dia 25 de dezembro de 1960. É o 4º entre 5 irmãos, todos meninos. A infância de Zac é marcada pelos aniversários natalinos em que seu pai encerra a festa imitando Charles Aznavour. Na adolescência ele tem dúvidas sobre sua sexualidade e pede a Jesus para não ser homossexual para não decepcionar a família. Na vida adulta, viaja para Jerusalém, cidade que sua mãe sempre sonhou conhecer. Zac era o favorito do pai, gostava de música e tinha um bom relacionamento com a família. Ele tinha comportamentos diferentes de seus irmãos: gostava de carrinho de bonecas, de brincar sendo mãe de seu irmão mais novo, e toda a família acreditava que ele tinha poder de curar. O interessante é que todos os chamavam de "veado" por causa desses comportamentos, inclusive a família. O pai tinha um medo terrível que algum de seus filhos fossem homossexual. Zac fica na dúvida sobre sua sexualidade. Aos dezesseis anos, se descobre apaixonado pela sua prima (ou namorado dela). O seu irmão mais velho vira um viciado em drogas. O roteiro é ótimo e as interpretações ajudam o filme a ser melhor. A trilha sonora é espetacular, como a trama se passa no final dos anos 60 e início de 70, tem Patsy Clide (cantora da música que dá origem ao título), Pink Floyd, David Bowie e Rolling Stone. Quer se divertir, se emocionar, refletir, assista a esse filme, pois fala de família com seus defeitos e qualidades. É uma história de dois casos de amor. O amor de um pai pelos seus filhos. E o amor de um filho pelo seu pai.
Ficha técnica:

Título original: (C.R.A.Z.Y.)

Lançamento: 2005 (Canadá)

Direção: Jean-Marc Vallée

Atores: Michel Côté, Émile Vallée, Marc-André Grondin, Danielle Proulx.

Duração: 127 min

Gênero: Drama


Se quiser assistir ao trailer do filme clique na imagem.



terça-feira, 5 de abril de 2011

Carta do Zé agricultor

Carta do Zé agricultor para Luis da cidade.


Prezado Luis, quanto tempo.

Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.

Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis?

Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.

Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luis?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né .) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do

Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.

Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.